30 de novembro de 2008

Design e o lado direito do cérebro


O cérebro tem dois lados que trabalham juntos, mas são completamente diferentes um do outro. Durante muitos anos o lado esquerdo tem dominado o mundo no sentido de ter suas habilidades mais valorizadas. As engenharias, por exemplo, foram muito valorizadas durante um longo período de tempo. Porém, essa visão está mudando.

De forma resumida, o lado esquerdo é aquele que lê o texto e o direito o que lê o contexto. O hemisfério esquerdo é sequencial, literal, pragmático, textual e analítico; enquanto o direito é simultâneo, metafórico, estético, contextual e sintético. “O hemisfério esquerdo sabe lidar com a lógica, enquanto o direito conhece o mundo.” (McManus)

O lado direito do cérebro está tornando-se mais importante e necessário no mundo dos negócios e das profissões. E parte deste acontecimento se deve a era da informação ter mudado algumas profissões. Muitas coisas que antes eram realizadas pelos homens através de raciocínio linear (como texto e cálculo, que são atividades do lado direito do cérebro), hoje são realizadas pelo computador com facilidade superior e com uma velocidade absurda. Competir com o computador não é uma opção. Devemos usar ele como ferramenta, e buscar formas de estimular o lado direito do nosso cérebro buscando novas opções. No design, o rascunho é uma forma de nos libertarmos das formas retas e perfeitas do computador e tentar ativar a criatividade (lado direito).

As atividades do tipo E (do lado esquerdo do cérebro) estão aos poucos perdendo seu valor, até porque existem lugares onde a mão de obra é mais barada para desenvolver este tipo de atividade. Porém, isto não significa que estas atividades irão sumir, pois elas vão continuar sendo necessárias.

O autor do livro “O cérebro do futuro – A revolução do lado direito do cérebro”, Daniel Pink, diz que estamos entrando na Era Conceitual e que os principais personagens desta nova era são o criador e as pessoas empáticas, cuja aptidão peculiar é o domínio da atividade cerebral do tipo D (do lado direito do cérebro). Essa transição é alimentada pela riqueza (abundância), o progresso tecnológico (a automação dos mais diversos tipos de funções intelectuais) e a globalização (migração de alguns tipos de trabalho do conhecimento).

Para sobreviver bem a essa era você precisa fazer algum trabalho que não possa ser feito no exterior por um preço mais barato e também que o computador não possa fazer por você. Além disso, você precisa verificar se existe demanda para o que você está oferecendo nessa era de abundância.

Ser high tech já não é suficiente. Segundo Daniel Pink, precisamos ser high concept e high touch. Isto é, precisamos desenvolver capacidade de criar beleza artística e emocional, de perceber padrões e oportunidades, de conhecer narrativas interessantes e de combinar idéias que parecem desconexas para criar algo novo (high concept). Alem disso, precisamos desenvolver a capacidade de criar laços de empatia, de compreender as sutilezas das interações humanas, de encontrar alegria interior e de enxergar além da superfície na busca de propósito e sentido (high touch).

Apesar destas aptidões em geral serem comuns nas características dos designers, já que design está mais relacionado às atividades do lado direito do cérebro, é possível sermos designers pobres de resultados ou insensíveis aos acontecimentos a nossa volta. Pois se você está vazio e perdido, sua produção de design será vazia e perdida. Precisamos estar cheios de sentido no nosso interior para poder fazer design de sentido (produção exterior).

O mundo hoje tem buscado pessoas que consigam ver além e que consigam interagir com um mundo de possibilidades e de conhecimento, escolhendo as opções de valor. Precisamos ser pessoas de conteúdo e pessoas sensíveis ao mundo e às pessoas a nossa volta. A valorização do designer nessa nova era se dará justamente quando ele for um designer de contexto, de conhecimento amplo, de personalidade e de sentido.